Brasileiros denunciam empresa que aplica golpe em Portugal
Uma situação nada agradável ocorreu com um grupo de 45 brasileiros que diz ter sido duplamente enganado por mais uma empresa de fachada, que têm usado Lisboa como base.
Segundo as denúncias, ela foi criada na capital para aplicar golpes no Brasil, sumia com dinheiro de investidores após prometer lucros rápidos com ações no mercado financeiro.
Eles afirma que foram enganados mais de uma vez porque, em primeiro lugar, não receberam os salários prometido (€ 800/R$ 4,4 mil).
Sequer receberam as comissões de maneira integral.
E, em segundo, porque não saberiam que o trabalho seria aplicar golpes em brasileiros.
Os nomes dos funcionários ficarão no anonimato porque eles denunciam que receberam ameaças. Também a pedidos, não serão revelados os nomes da empresa, que trocaria de razão social regularmente.
Quase todos deixaram a empresa quando descobriram o objetivo por trás de um anúncio sedutor.
Um dos requisitos era o candidato ser brasileiro, o que não é difícil encontrar entre as mais de 500 mil pessoas dentro da maior comunidade estrangeira em Portugal.
Os brasileiros em Portugal ligavam para números do Brasil apresentando a empresa e explicando como investir em ações de gigantes como Apple e Tesla.
Quem aceitasse a proposta, era direcionado para um analista e o contato com os “operadores de telemarketing” era cortado.
Na segunda fase, pessoas sem conhecimento das operações do mercado faziam depósitos iniciais via Pix de € 200 (R$ 1,1 mil) ou € 300 (R$ 1,6 mil), mas eram convencidos a continuar no jogo, investindo mais e mais. No fim, quando as vítimas do golpe pediam o resgate, o dinheiro supostamente aplicado sumia.
— Não podíamos ter mais contato com o cliente. O analista fazia o cliente fazer aportes de valores cada vez maiores. (…) Comecei a ver muitas reclamações, de clientes que fizeram grandes aportes e nunca mais viram a cor do seu dinheiro — disse X.
— A parte do golpe ficava com um analista. De alguma forma, ele conseguia rentabilizar o dinheiro do cliente na plataforma. Depois, oferecia proposta irrecusável de colocar mais dinheiro e forçava o cliente a pedir empréstimo. Quando o valor estava altíssimo, simplesmente tiravam todo o dinheiro e desapareciam — completou Y.
A companhia de fachada funcionava em uma área que virou um epicentro digital de Lisboa, muito perto do Hub Criativo do Beato, o centro de inovação da capital. Há uma semana, a empresa, com nome fantasia, fechou, deixando 45 funcionários brasileiros do telemarketing sem pagamento.
— Fechou do nada, simplesmente sumiu. Essa não é a primeira vez que fazem isso. Aplicava os mesmos golpes com outro nome. É um grupo de brasileiros que contratam apenas brasileiros e vendem também apenas para brasileiros. Muitos funcionários estão indo à Justiça, mas, infelizmente, isso às vezes não resolve porque eles sumiram — informou um funcionário.
Representantes do grupo de 45 brasileiros disseram que podem entrar com ação coletiva. Sabem que, no Brasil, um advogado representa 35 clientes lesados em mais de R$ 1,3 milhão e podem seguir a mesma linha.
— Na realidade, tem mais gente, mas algumas pessoas têm medo. Precisamos receber esse dinheiro e as pessoas topam. São 800 euros de salário multiplicados por 40, 45 pessoas, fora as comissões. Tem muita gente saindo prejudicada e no Brasil os clientes têm ação, já temos o contato — disse X.
Funcionários recorreram à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), que teria remetido os denunciantes à Justiça. Porém, muitos deles ainda aguardam a regularização da autorização de residência portuguesa, cada vez mais lenta e burocrática, e temem pela suas permanências no país. Pelo mesmo motivo dizem não recorrer à polícia.
Os funcionários trocavam mensagens cobrando o pagamento com uma antiga gerente, que também desapareceu. Os supostos donos da empresa de fachada ainda manteriam perfis ativos na internet, segundo disseram os brasileiros.
— Mandei mensagem e ele ainda não visualizou. Mandei para uma sócia e ela disse que venderam a empresa. Honestamente: eu acredito que não vou receber mais o dinheiro. Mas eu acho importante divulgar ao máximo para este cara não dar golpe em outras pessoas. Eu perdi o salário do mês, mas há pessoas que perderam R$ 20 mil. E isso é muito triste — declarou uma funcionária.
Via O Globo