“Lula sofre críticas de eleitores ilustres e vê pressão crescer”, diz artigo da Folha
Paulo Gustavo – A Folha de São Paulo fez uma matéria nesta sexta-feira (7), sobre o atual governo e nela o jornal apurou algumas críticas de apoiadores do atual regime político que comanda o país.
O jornal começa a matéria citando o escritor Paulo Coelho, que segunda a Folha “foi a crítica mais ruidosa até aqui”.
Confira abaixo a matéria na íntegra do jornal (que como pode observar é a matéria de capa da versão digital do periódico):
[Além de Paulo Coelho]: outros eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também vêm expressando insatisfação com o governo, em um movimento negativo que o Planalto e militantes tentam combater com pedidos de paciência.
Ao chamar o novo mandato de patético, Coelho deu vazão a queixas de parcelas dos que votaram no petista, inclusive os que só queriam derrotar Jair Bolsonaro (PL). É o caso de apoiadores ocasionais como o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o ex-presidenciável do Novo João Amoêdo.
Aliados como o ex-governador Roberto Requião (PT-PR) e o senador Cid Gomes (PDT-CE) também foram a público atacar aspectos como a fragilidade do programa de governo e a guerra de Lula contra o Banco Central por causa da taxa de juros.
“Não devia ter me empenhado na campanha”, disse Coelho no desabafo que fez em uma rede social no fim de março. Ele afirmou que seu voto não valeu a pena e demonstrou arrependimento pelas décadas de apoio ao petista, que lhe custaram até o afastamento de leitores, conforme relatou.
O autor do livro “O Alquimista” se mostrou especialmente irritado com o bate-boca de Lula com o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), iniciado após o petista lançar a ilação de que a descoberta de um plano de atentado contra o ex-juiz da Operação Lava Jato seria “mais uma armação” de seu algoz.”Estou achando o governo muito ruim”, afirma à Folha Amoêdo, que surpreendeu muita gente ao votar no petista contra “um mal maior”, Bolsonaro. O ex-banqueiro vê o presidente “preso a erros do passado, com uma equipe descoordenada e sem gestos para colocar o Brasil no rumo do crescimento”.
Amoêdo tem se pronunciado também contra a regra fiscal e a permanência de ministros como Juscelino Filho (Comunicações), exposto em uma série de denúncias.
Apesar disso, diz não se arrepender do voto.
“Estou seguro porque, sabendo de tudo o que veio à tona, vejo que Bolsonaro precisava mesmo sair. Como discordo muito do PT, nunca tive grandes expectativas, mas nutria algumas esperanças.”
Segundo pesquisa Datafolha, o governo é considerado ótimo ou bom por 38% dos brasileiros, regular por 30% e ruim ou péssimo por 29% (margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos).
Entre os que declaram ter votado em Lula, os percentuais são de, respectivamente, 71%, 24% e 3%.
Lula fez até aqui pelo país menos do que o esperado na visão de 1 em cada 4 pessoas que afirmam ter votado nele (25%).
Ele fez o que era previsto na opinião de 37% e superou a expectativa para 34%.
O resultado do Datafolha foi encarado com otimismo por integrantes e aliados do governo, que lembram o fato de o país ter saído dividido da eleição.
O petista venceu com a margem de votos mais apertada desde a redemocratização, apenas 1,8 ponto percentual à frente do adversário.
A estratégia governista de culpar os estragos herdados da gestão Bolsonaro pela demora em apresentar resultados em várias áreas, principalmente na economia, é replicada por defensores de Lula.
O ex-senador Aloysio Nunes Ferreira, um dos primeiros integrantes de peso do PSDB a embarcarem na candidatura do petista, faz reparos pontuais —a insinuação sobre Moro foi “um mau passo, embora não comprometa o governo como um todo”—, mas diz confiar no sucesso da gestão.”
O Lula vai fazer um bom governo, apesar de ter enfrentado uma transição tumultuada.
Mesmo com o golpismo do 8 de janeiro, o descaso com os yanomamis e os estragos das chuvas, para citar alguns exemplos, ele está se saindo muito bem. Está arrumando a casa”, afirma Aloysio à Folha.
O tucano aprovou o arcabouço fiscal e considerou o ministro Fernando Haddad (Fazenda) habilidoso na articulação política do substituto do teto de gastos.
Aloysio, que foi ministro das Relações Exteriores de Michel Temer (MDB), também concordou com a decisão do Brasil de não assinar a declaração final da Cúpula da Democracia, que embutia críticas à Rússia pela invasão da Ucrânia. “Foi uma posição correta. O fórum para tratar desse tema é a ONU”, diz.
“O eleitor é sempre impaciente, quer o resultado. Ao governo cabe agir com calma e tomar atitudes com solidez”, opina o ex-chanceler.
O problema é que “o sentimento benévolo em relação ao governo, aquela torcida sincera para que dê certo, está arrefecendo”, afirma o sociólogo e investidor Zeca Martins, integrante do Derrubando Muros.
O grupo formado por empresários e profissionais de diferentes áreas buscou uma terceira via em 2022, mas por fim acabou se aproximando de Lula, que foi a opção de grande parte dos membros.
“Sou parte da ala que votou nele pela primeira vez para afastar o risco Bolsonaro. O rigor com o atual governo, mesmo daqueles lulistas convictos, está baixo. Noto ainda uma complacência em função da tortura que foi conviver com um governo fascista, mas essa fase está se esgotando.”